quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Presente de menina! - Mudança se faz mudando



  Mudar é revolucionar! Não importa se em pequenos ou grandes espaços, toda mudança tem valor e vai fazer diferença em algum momento da vida de alguém. Mesmo consciente disso, o fato é que é muito louco lidar com os obstáculos do dia a dia, fazer qualquer coisa diferente do “esperado” causa estranheza, mesmo com boas argumentações, dados e comprovações reais, a cultura é forte! Mas o nosso papel é não desistir jamais! 

Um dia desses presenciei uma situação assim. Foi numa brincadeira de amigo secreto, meu sobrinho, um jovem de 20 anos tirou uma das crianças, mas não uma criança dita comum. O que quero dizer é que a menina em questão é aquela criança que toca o terror, no bom sentido é claro. Tem resposta pra tudo, opinião própria, faz questão de participar das brincadeiras dos maiores, principalmente daquelas que ainda insistem erroneamente em chamar “brincadeira de menino”, isso tudo sendo a mais pequenina da sua turma. Na escola onde estuda é conhecida como a líder da garotada, e ela só esta na creche. Ela é uma pequena “mini feminista” notável.

 Na brincadeira do amigo secreto o primo que tirou a pequena mocinha de 4 anos ficou mega feliz, com ela poderia inovar no presente, afinal “mudança se faz mudando”.

Chegou o dia da entrega do presente, e o então criativo primo deu para a garota a conhecida arminha de dardos Nerf. Era comum ver briga entre os primos pelo fato das meninas não ter o tal brinquedo, com certeza a pequena iria amar.

Mas existe algo maior do que boas intenções ou nossas vontades. Existe a cultura, o estímulo diário, aquilo que aprendemos em casa ano após ano.

Quando a menina recebeu o presente, o seu semblante fechou. E honesta como sempre foi disse:

- Eu não gostei do presente, queria uma boneca.

Todos ficaram pasmos.
O protagonista da tentativa de mudanças então, nem se fala. Ele ficou sem ter onde enfiar a cara.

Foi impossível não interferir.

- Logico que ela não gostou! - Eu disse. - Na verdade ela pensa que não gostou. Desde que ela se entende por gente todos os brinquedos que recebe em qualquer ocasião são bonecas, ela já associou isso ao que deveria receber como presente. 
É claro que ela pode gostar de bonecas e se divertir com isso. O problema está em limitar presentes a isso.

Os presentes das meninas são produzidos para ir ensinando desde pequenas sobre cuidados domésticos.
 Quando crescemos brincamos de cozinhar, cuidar da casa e dos filhos? 
Ser mulher seria um fardo disfarçado de dom!

Que tal fabricar objetos para garantir a diversão e brincadeira das crianças, sem divisão de cores ou gênero, ou nada na embalagem que diga isso é de menino ou de menina. 
 Brinquedos e brincadeiras são produzidos como se tivessem propositalmente estímulos diferentes para classificar as crianças. 
Criança é criança e ponto!  

Fiquei a pensar sobre nós mulheres feitas, que crescemos com situações semelhantes enraizadas apresentadas como único caminho a seguir .a vida. Muitas vezes nos fazendo sentir culpa por realizar algo que temos vontade. Convivendo a todo o tempo com pessoas perpetuando hábitos e pensamentos completamente ultrapassados.

Quando vemos na prática como somos “construídas”, não fica tão difícil nos perdoar por não conseguir ter certas atitudes, e é também a partir disso que criamos coragem para mudar o rumo de nossa vida e escolhas. 
É legal pensar nisso e perdoar-se mais.

Quanto a minha linda sobrinha empoderada, como eu imaginei ela não me decepcionou.
 Após a chateação inicial da entrega do presente prometi que resolveria a situação. Chamei uma das crianças e disse para que eles fossem brincar com suas arminhas. 
Assim que começou a brincadeira a pequena buscou em todos os cantos o seu novo presente.

  Os seus olhos brilharam junto a sua voz exalando alegria. 
Ela disse: 

- Nossa! Agora eu tenho uma arma minha.

A criança ficou louca e se divertiu demais, nem se lembrou sobre o que falou de boneca, afinal já tem várias. Era o hábito, e existem outras coisas legais.

Brinquedos não tem gênero, nem brincadeiras. ´É preciso mudar a nossa percepção do mundo para ampliar a visão de mundo das crianças, elas estão abertas a igualdade. 

Ser mulher é ter todas as possibilidades que o mundo oferece. Entenda isso e passe adiante.

Mesmo diante de uma decepção não desista, espere o dia seguinte, ou as próximas horas. 
Nada é impossível de mudar, já dizia Bertolt Brecht.

Para hoje: Não tenha medo de fazer o novo, as próximas gerações contam com você. 

Texto: Grazy Nazario.


Um comentário:

Obrigada pela participação!