segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Finais reais

 Eu costumo falar bastante sobre finais, mas quase sempre os associo a renovações ou recomeços. Costumo pensar sobre como o tempo e alguma experiência contribuiu para aprender a aceitar finais, pensando que para tudo se tem um recomeço, como acontece nos livros. Finalizamos um capitulo e vem o inicio do próximo, e assim acontece até acabar toda a história. Sem contar que, quando o livro é bom vivemos um misto de curiosidade e medo. Tememos o fim, e a separação daquelas emoções, mas também queremos saber o que acontece. Dor e desejo, risos, choros e emoções... Assim até que o livro termina, e aquela sensação de vazio nos chega. Ao final um sorriso de satisfação se une junto ao abraço na obra. Olhamos o livro fechado, os olhos brilham. " Quantas coisas vivemos juntos, e tantos planos, foi muito bom, e acabou".

  Sempre gostei de pensar assim tanto na escrita, como na leitura. Dormimos e acordamos com os personagens todos os dias, nos tornamos amigos, ficamos a imaginar as suas atitudes, e torcemos para que o melhor aconteça, ou o pior. rsrs

Na escrita não é diferente, mas confesso que é muito mais emocionante, o paragrafo se escreve um a um enquanto vamos digitamos as palavras, assim como acontece enquanto escrevemos um texto como este, é muita emoção, amor e satisfação. É surreal. Por essas e outras os finais nos dilaceram, quando finalizamos uma historia é como realizar um parto, a obra já finalizou, e então ficamos a sentir falta do que tínhamos dentro de nós.

Sempre que eu estava com um projeto perto de chegar ao fim, o meu lado criativo enlouquecia em possibilidades de criações, talvez fosse o meu subconsciente, como uma forma se proteger as minhas sensações, dificilmente eu ficava sem ideias para escrever outra historia, e isso sempre me soou como algo muito bom. Até que decidi que deveria usar isso em outros setores da minha vida, creio que o medo do vazio não me deixou raciocinar muito bem. Pensei que não fosse necessário "esperar", e assim não deveria/poderia ficar nem mesmo um dia sem trabalhar, assim como, não esperaria nenhum sentimento ir embora por si só, deveria colocar muitas emoções sobre eles para que ele morresse sufocado.

Mas muitas vezes saímos de um determinado emprego esgotados, impossível raciocinar, e avaliar bem as grandes oportunidades que cabem ser aproveitadas por nosso potencial, e também o que podemos e queremos fazer. O medo sufoca, o cansaço não nos deixa enxergar nada, e aceitamos qualquer coisa mesmo que não tenha nada a ver conosco, só para não ficar desempregado. É claro que precisamos comer, vestir e bla, bla, bla. Mas relaxar a ponto de pensar em si, no que ama e gostaria de se dedicar não deveria ser considerado perda de tempo, pois é ganho. 

Assim também acontece com os sentimentos, muitas vezes não queremos esperar nada, nos cansamos, e decidimos não mais sofrer por aquele motivo, ai sofre por outros, e depois sofremos pelos velhos e novos motivos. Coisas da vida, dos finais, seja da paciência, da memória, ou dos finais em si.  

Então pensei que nem tudo se renova, algumas coisas terminam mesmo, porque chega o tempo de seu fim, acontece com encontros, com o expediente do trabalho, um filme, e um livro, é claro. E não sempre finais acontece para que novas situações renasçam, e tudo bem, não é o fim do mundo, apenas o fim de uma história, e caso outra melhor não acontecer, teremos em memória a melhor história até então vivida, lida ou contada. Assim como a vida, tudo acaba.

Hoje o meu dia finda, algumas decepções marcam o meu coração, alguns arrependimentos, outras certezas, e muitas palavras, estas eu espero que nunca se acabem dentro de mim. Embora finais sejam reais, e muitas vezes tristes, outros são imensamente esperados, mas nem tudo depende de nós. 

Desejo os melhores finais, principalmente para os inevitáveis. Que a tristeza passe, a esperança não morra, e o sorriso aconteça. 

Para hoje:  "Amanhã vai ser outro dia..." (Chico Buarque). E enquanto este for o plano espiritual que nos pertence, teremos outros dias. 


Texto: Grazy Nazario. 

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