Eu saltei de pelo menos 12 mil pés de altura, sem para quedas, sem ninguém segurar a minha mão, saltei confiando em mim, e em como eu gosto de dizer: no “universo”. Mas calma que não é bem assim, não foi um salto literal, mas posso garantir que é real. Claro que isso pode ser considerado uma analogia boba, e ao mesmo tempo caber perfeitamente no meu momento.
Depois de trabalhar durante quase
nove anos no setor administrativo (publico) eu me joguei. Isso, eu me joguei para
fora de lá. Eu mesma me retirei, antes de retirarem comigo, ou eu me perder de
mim mesma, aliás como já vinha acontecendo.
A minha trajetória poderia ser resumida
em três palavras: Plenitude, transição e tristeza. Mas como eu sou escritora, gostaria
de descrever de fato a que estou me referindo.
A Plenitude. Durante certo tempo
eu costumava dizer que não trabalhava, eu recebia para ser feliz. Isso mesmo, era
essa a descrição para falar do meu antigo emprego. Era uma alegria, desafios
diversos, tudo com significado e proposito. Eu não sou muito fã de nostalgia,
as pessoas que me conhecem sabem disso, mas ao falar desse momento é algo inevitável
para mim, porque foi incrível, uma realização de formas como eu ainda não havia
vivido.
Mas tudo que é bom... Após algumas
mudanças inevitáveis por questões que não requer comentários, tudo realmente mudou,
e com o passar do tempo se transformou.
Transição. Durante algum tempo eu
queria muito continuar, e foi uma luta conquistar a confiança dos novos líderes,
foi desafiador de diversas formas e eu sentia orgulho das minhas condutas a cada
nova etapa que isso acontecia. Durante este tempo de transição foi possível manter
ainda algumas das funções antigas que faziam sentir o meu proposito latente.
No entanto, em 2020 tudo mudou, e
não foi só por conta da terrível pandemia que todos nos lembramos. Neste ano eu
fui mais uma vez testada, naquele momento de terror tive que provar o meu valor
novamente, e aceitei ir para um setor completamente diferente das minhas funções
até então, uma frente extremante burocrática e incompatível com o meu perfil.
No inicio eu fiquei feliz, era
mais um desafio, uma oportunidade de me mostrar mais uma vez capaz de
sobreviver as transformações, e sim eu me considero alguém flexível. Sem falar
que era o ano da pandemia, e ficar desempregada seria um dos piores pesadelos para
qualquer pessoa. Enfim a pandemia acabou e eu consegui permanecer trabalhando,
mas o que isso me causou depois deste período foi extremo e doloroso.
Após o terror que vivemos durante
a pandemia senti os meus principais talentos suprimidos, fui sufocada por minha
criatividade reprimida, proibida de falar sobre qualquer assunto que eram a razão da minha inserção na educação. Sou além de professora de artes, escritora,
estudo sobre as questões das mulheres, e luto o tempo todo contra qualquer
descriminação.
Na sala de aula, quando leciono Ética
e Cidadania isso é lindo de realizar, mas quando se está em um ambiente hostil precisamos
nos adaptar, e muitas vezes isso que dizer silenciar. Nos vemos em situações que
você precisa explicar: por que ninguém tem o direito de agredir uma mulher independente
do motivo, isso é deprimente. Isso para falar o mínimo.
Tristeza. Eu adoeci. Adquiri diversas
respostas do meu corpo sobre o trabalho que estava realizando e a que estava
dedicando a maior parte dos meus dias. Foram muitos anos pedindo uma
oportunidade para atuar com o que eu tenho talento, afinal precisam existir
pessoas para atuar em todos os setores. Pessoas que se identificam com
contabilidade, por exemplo, não terá facilidade em criar projetos envolvendo
arte e escrita criativa, precisamos dessa variedade de gostos e habilidades
para que as atividades aconteçam com qualidade para todos os lados, afinal, o
que seria do azul se todos gostassem do amarelo?
Salto. E foi assim que eu entendi
que algumas batalhas são vencidas quando você se escolhe, e decide optar por você
mesma. Os meus braços, meus sonhos e minha mente não conseguiam mais ficar
presos atrás de uma mesa fazendo conferências minuciosas sem sentido para o que
faz parte da minha natureza. Não é sobre mim ou qualquer pessoa, é sobre afinidades,
perfil, sentido.
Agradeci as pessoas todas que me
deram essas oportunidades, de certa forma vivenciei varias etapas e todas elas
possuem a sua importância, até as pessoas quem me fizeram sentir desconfortável
a ponto de eu preferir não permanecer.
Ao buscar novas oportunidades de
trabalho notei que existem vagas valorizando que seus futuros colaboradores não
sejam “mente fechada”, que não pratique discriminação contra ninguém. Fiquei
encantada em saber dessa realidade, ao invés de corrigir o mínimo, me preocupar
em estudar para não passar vergonha, é este o desafio que eu busco!
Eu quero viajar, participar de
congressos, fazer as minhas palestras, lecionar com qualidade, falar de arte,
cultura, fé nas pessoas e nas mudanças. Quero voar, e o maior salto de todos,
daqueles que perseveram!
Texto: Grazy Nazario.