quarta-feira, 29 de junho de 2016

Poesia - O viajante

Artista: Lasar Segall
Navio de emigrantes, 1939/41
Óleo sobre tela
230 x 275cm


Perdi a hora. Para fugir a bomba não acorda
Tiros não mais me assombram
Mas se me pegar, quem cuidará de Ana?

Embarquei, notei as vestes únicas, úmidas.
O navio sujo, cheio. Falta falta ar, mãos vazias, a vida a deriva.

O sonho é não sonhar
Dormir é o bastante, meu montante
A viagem é o ato, a esperança turva, chegada incerta, disputa pura

Assoalho barro de Deus
Capitão rei encenação
O Navio negreiro nunca esteve em extinção.

Dor inconsciente também dói
O medo de sofrer destrói
 Quem será meu algoz

Tomei a voz que não me ouve
O trabalho não é fardo
Lá esta a guerra
Aqui morre os refugiados.


Por Grazy Nazario.

domingo, 12 de junho de 2016

Diário do artista - O preço de ser FIEL - Salve o Corinthians!


Sempre que tem clássico entre Corinthians e Palmeiras é uma verdadeira guerra em casa.

Sim, temos uma parte de palmeirenses e outra de corintianos, somos desportistas até certo ponto, mas tem horas que a coisa fica feia, e quem não é de “casa” muitas vezes até se assusta, mas nunca chegou a ser nada serio, ou quase.
Mas nem sempre foi assim...

Quando tem um jogo dessa grandeza eu me lembro da minha infância, e comento com todos, principalmente com os recém chegados à família o meu histórico de luta, e sim, faço isto com muito orgulho.

 Eu cresci em um núcleo de palmeirenses que não aceitavam a minha voz, queriam me calar, e não me deixar feliz... Assim quando eles ganhavam me zoavam e eu chorava, e quando nós ganhávamos não nos deixavam comemorar. Isso era a minha revolta maior, para assim nos forçar, eu e o meu primo a ser o que não queríamos. E é assim que todos os opressores se comportam, querem nos calar, nos deixar tristes e sem direção. Mas não é bem assim, e não deixaremos ser, não mais.

Cresci cada dias mais corintiana, aquilo estava errado e eu jamais cederia. Além de torcer, entendo de futebol, e sempre disse que mulher podia fazer tudo o que quisesse, e sim, quando adolescente eu jogava num time de futebol feminino. <3

Eu sempre briguei pelo meu espaço neste quesito, as vezes o meu pai levava tudo muito a sério, parecia meu inimigo. Muitas vezes eu me perguntava por que gostava tanto daquele símbolo, por que o hino me encantava tanto, desenhava desde os sete anos o escudo do Corinthians em tudo quanto era lugar. 
 Até ouvir da minha mãe uma história. Ela me contou que eu atrasei quinze dias o meu nascimento, até nascer no dia 1º de setembro, que não por acaso é o dia do aniversario do Corinthians, pensa se eu não chorei de emoção!

A partir deste dia eu não tive mais duvidas, sou predestinada a torcer por este time!

Hoje eu não sou tão fanática, não como antes, nem perto do que era antes, creio que toda euforia e batalha tinham um viés maior que títulos e futebol, era briga por espaço e expressão, “não opressão” e sim aos direitos das mulheres, e de ir e vir como pessoa.  

A minha mãe enlouquecia, também é corintiana, e até hoje ela fica preocupada com as encrencas. Os meus irmãos e primos, a maioria cresceram palmeirenses, a minha irmã eu salvei para o meu grupo e conquistei novos aliados, os meus filhos e sobrinhos aprenderam a amar o Corinthians também. A disputa ficou só mais emocionante! Eu fiz de tudo para que eles escolhessem sozinhos, para não sofrerem o mesmo que eu, mas com a doença e soberba dos palmeirenses ao querer impor algo, não foi tão difícil.

 Temos nosso mundial LINDO que eles tanto nos invejam!

Não tento aqui provar que o meu time é melhor, embora seja kkkkkk

Até perdemos hoje! :(

A ideia é a liberdade, de escolher a quem seguir, e o que fazer da própria vida, e das próprias vontades.
 Ser livre é a missão.

Ninguém irá me dizer o que fazer, a que politica devo seguir, seja por partidos ou clubes de futebol. A minha fortaleza é saber que sou unidade, e que nenhum sofrimento se assemelha a ser aquilo que você não é, ou seguir a partir de alguém aquilo que você não acredita.

Hoje o meu time perdeu, mas quem ganhou foi eu por não ter desistido em momento algum de ser Fiel!

Sou fiel de Corinthians, sou fiel a Grazy. E será assim sempre!

Para hoje: Salve o Corinthians!



Grazy Nazario. 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

As flores de cada dia


Assim que eu vi minha florzinha de mesa murcha e com algumas flores caindo fiquei triste, não podia fazer nada pra salvar a vida da planta. Reclamei desanimada, disse que a coitadinha parecia estar perdendo a vitalidade, assim como acontece comigo as vezes...

Mas as respostas podem ser sábias, mesmo quando simples e sem grandes pretensões.
Então minha colega de trabalho disse:

- Não se preocupa, você cuida dela, ela esta apenas trocando as folhas e flores, repara como as que caem  estão com novos botões, e onde também não tinha antes, irão nascer novas.

Eu sorri e me conformei.


Ficará mais bonita, renovada e mais forte. Assim como acontece com nós. 


Para hoje: Mais flores! :) 









quarta-feira, 1 de junho de 2016

Diário do artista - Quando o trabalho nos enobrece

Todos os dias podem ser especiais de alguma forma, mas em algumas ocasiões percebemos isso de forma intensa, então tudo se torna mais significativo. Por vezes a consciência é algo muito gratificante.

Hoje fui fazer o registro de um evento no meu trabalho, mais um entre tantos, serviço corriqueiro, ao menos era o que eu imaginava. Tratava-se de professores que formam um grupo de trabalho e pesquisa sobre direitos humanos, mas hoje o tema era gênero. As pessoas que me conhecem pouco ao iniciarem qualquer conversa logo notam o meu interesse pelo tema, e as que já me conhecem já se acostumaram com as minhas falas. Assim fica fácil dizer que eu me senti em “casa”.

O curso teve uma dinâmica bacana, pontuar de forma simples aquilo que eu falo todos os dias, “os homens tem muitos privilégios diante das mulheres”. Estava tudo bem, e eu falando mais que tudo e trazendo alguns assuntos a tona. Até que algo me calou.

Uma moça presente, que tem por volta da minha idade com uma fala muito segura abriu para o grupo que havia sofrido um estupro. A minha língua gelou. Claro que o assunto da moça do Rio de Janeiro, e o caso do estupro coletivo veio a tona, mas eu ainda estava atenta a ela. Existia alguém do meu lado que havia sofrido o maior temor de qualquer mulher neste planeta. Eu estava diante da estatística, o real estava ao meu lado.

Ela viu como eu fiquei “paralisada”, mas eu queria saber mais, precisava saber mais, e logo o meu sentido investigativo me impulsionou. Mencionei sobre a culpa que a mulher carrega nos ombros, seja lá qual for a situação, então ela iniciou o assunto para o nosso pequeno grupo.

Os detalhes do acontecido são mais que assustadores, mas pior que isso é ter certeza de que se trata da rotina de qualquer uma de nós. Ela nos contou que ia para a igreja, e no meio do caminho foi abordada, também nos falou sobre o julgamento feroz que a “sociedade” fez sobre ela  durante muito tempo após o acontecido. Ela tinha vergonha de ter sido atacada, e é claro que diante da nossa cultura todas nós teríamos. Mas o pior esta longe de ser isto, algo ainda mais severo estava por ser dito, ao chegar na delegacia para informar o crime, umas das humilhações sofridas pelo delegado foi:
- Se a “putinha” esta insistindo, vamos ter que ir até o local investigar... 
Esta foi apenas mais uma, das varias violências que esta mulher sofreu neste mesmo dia.

Senti como se o meu coração fosse rasgado, os meus olhos encheram de lágrimas, e ela me olhou no mesmo momento, eu não queria que ela me visse chorando, mas eu não conseguia segurar, eu tentei impedir de continuar a sentir aquilo, mas quanto mais eu tentava, mais as lagrimas ficavam fortes. Daí ela me encarou, e disse que superou o ocorrido, e que perdoou o seu agressor, e que inclusive esteve com ele pessoalmente depois de se sentir forte para aquilo. E eu realmente acredito nela.

Eu gostaria muito que os homens nos ouvissem em momentos assim, gostaria que por poucos instantes pudessem ouvir o nosso coração, e entender que não queremos privilégios, queremos o justo. Queremos sair às ruas sem medo, e poder ter capacidade de viver a vida como escolhermos, seja lá como for, assim como eles fazem. Gostaria que muitos não fossem dominadores, como a sociedade os criou, e que entendessem que temos voz, e a cada dia ela soará mais alta, eles querendo ou não. São tantos pedidos a serem feitos, que muitas laudas não seriam suficientes.

Eu agradeci por ter participado daquela turma de hoje, o trabalho enobrece quando assim nos permitimos, senti que a minha alma foi tocada pela humildade e força daquela mulher, que talvez não saiba, mas ensinou a muitos hoje, pois se se expôs sem medo dos julgamentos que já lhe assombraram um dia, além de nos presentar por sua capacidade de perdoar e superar algo tão profundo.

Para Hoje: Que o nosso grito de socorro não seja mais ignorado. 
                   Podemos assim sonhar com a felicidade consciente.


Grazy Nazario.